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terça-feira, 13 de novembro de 2007

Alimentação de bebês de mães com aids gera debate

do The New York Times

Às vezes a experiência demonstra que soluções aparentemente lógicas para um problema de saúde não são tão simples quanto parecem a princípio. Um exemplo é a campanha para encorajar o uso de leite em pó, em lugar de amamentação, para alimentar bebês, com o objetivo de impedir a transmissão do vírus causador da aids da mãe para a criança.» Entenda como a doença é transmitida Na 14ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, que aconteceu em Fevereiro deste ano em Los Angeles, os cientistas mencionaram conclusões de diversos estudos que apontam o perigo do uso de leite em pó nos países pobres, o que representa séria contestação às recomendações atuais. Essas constatações levaram participantes do evento a instar os pesquisadores a descobrir maneiras mais seguras de amamentar bebês ou alimentá-los com leite em pó, na batalha para deter a pandemia da aids. Com base em estudos anteriores, a Organização Mundial de Saúde (OMS) havia anunciado que o uso exclusivo da amamentação acarreta risco menor de transmitir o HIV do que amamentação combinada a outros fluidos ou alimentos. Em uma posição de consenso divulgada em outubro de 2006, uma agência da ONU recomendava que as mulheres infectadas recorressem exclusivamente à amamentação nos seis primeiros meses de vida do bebê, a menos que fontes substitutas de alimentação, como leite de vaca, fossem aceitáveis, viáveis, acessíveis, sustentáveis e seguras tanto para a mãe quanto para a criança antes do final do período de seis meses. A decisão da mãe deveria se basear nas circunstâncias de sua vida. Muitos governos de países pobres adotaram essa diretriz, e alguns até encorajaram as mães infectadas a suspender a amamentação antes que o bebê chegasse aos seis meses, em um esforço por reduzir o risco de transmitir o HIV às crianças. Mas quatro novos estudos conduzidos na África e divulgados na conferência demonstraram que pode haver riscos significativos para esses bebês alimentados com leite em pó. Três estudos constataram que muitos bebês não infectados que foram alimentados exclusivamente por amamentação durante os primeiros seis meses de vida, e depois passaram a receber alimentos de outra maneira, registravam índices mais elevados de diarréia severa, que pode resultar em hospitalização ou morte. Um quarto estudo localizou uma epidemia de diarréia e má nutrição entre crianças pequenas depois de uma inundação em Botsuana, no ano passado. Devido à contaminação da água e do meio ambiente pelo esgoto, as mortes por diarréia naquele país do sul da África aumentaram em 25 vezes com relação ao passado recente. A conexão entre o surto e o uso do leite em pó só foi localizada devido a um detalhado estudo epidemiológico. O Centro de Prevenção e Controle de Doenças norte-americano, em Atlanta, pagou pelos quatro estudos. A ONU estima que 300 mil bebês morram de aids a cada ano depois de serem infectados ao receberem leite materno. A Unicef, por sua vez, estima que 1,5 milhão de bebês morram por ano porque suas mães escolheram não amamentá-los. Impedir infecções pelo HIV pode ser a maneira definitiva de evitar essa questão. Mas, para as crianças em situação de risco, os dirigentes de serviços de saúde precisam oferecer terapia de combate a retrovírus, tanto para as mães quanto para os bebês, e os cientistas precisam determinar se uma vacina que está em testes no momento entre as crianças da África é capaz de reduzir o risco de que sejam contaminadas com o HIV por mães infectadas.
The New York Times Terça-Feira , 27 de fevereiro de 2007