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domingo, 22 de junho de 2008

“PREVENÇÃO É PARA TODOS E NÃO SÓ PARA PORTADORES DO HIV”, DIZ ATIVISTA HUGO HAGSTRÖM

“Agora aparece um projeto de lei penalizando quem transmitir o HIV e classificando como crime hediondo. Prevenção é para todos e não só para portadores do HIV”, protestou o ativista Hugo Hagström, do Grupo de Incentivo à Vida, sem citar o número do projeto. Esta foi uma das reclamações em depoimento realizado no fim da tarde desta quinta-feira (19) no IV Fórum Brasileiro de Aids e no II Fórum Brasileiro de Hepatites Virais, na cidade de Santos, litoral sul de São Paulo.
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Hugo traçou um breve histórico sobre o ativismo, a epidemia de Aids brasileira e a chegada dos anti-retrovirais no Sistema Único de Saúde. “Foi necessário o movimento entrar na justiça para conseguir os remédios. Não foi uma iniciativa unilateral do governo como muitos acreditam”, disse.
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Segundo o ativista, houve dois lados da chegada dos anti-retrovirais: um positivo e um negativo. “Foi ótimo saber que passaríamos de portadores de uma doença letal para uma doença crônica. Mas, isso materializou o HIV para quem necessita de privacidade e não quer revelar seu status”, explicou o ativista sobre o preconceito que um portador do vírus pode sofrer em ambientes de trabalho ou sociais ao ter que portar os medicamentos.
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Para ele, o maior desafio é a adesão ao tratamento. “Ela é diária, não é uma etapa que quando vencida está eliminada”, ressaltou.
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Outro problema apontado por ele é o emprego. “Se por um lado a Previdência Social diz que estamos aptos a trabalhar, por outro as empresas não querem nos contratar”, disse, afirmando que a testagem compulsória de HIV, sem consentimento do indivíduo, ‘rola solta’ no Exército, Marinha e Aeronáutica, além de outras empresas privadas.
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No fim, o ativista também disse que falta humanização com os médicos e reclamou dos baixos salários que profissionais de saúde recebem no Sistema Único de Saúde.
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Hepatite C - Já Jeová Fragoso, ativista da Hepatite C da ONG Grupo Esperança, contou que na sua instituição há três óbitos por mês por causa das hepatites. Depois, explicou os entraves técnicos e burocráticos na área dentro dos serviços de saúde, citando principalmente os problemas para realizar exames como o PCR. “Isso prejudica demais o indivíduo que descobre-se portador da hepatite C e é obrigado a seguir uma série de procedimentos. Muitos pensam, ‘estou bem, para quê o tratamento?’”, explicou, dizendo que a maioria abandona o tratamento. Também citou que uma das maneiras de ir atrás do direitos é entrar com ação na justiça.
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No final da apresentação, disse que 40% dos soropositivos possuem infecção por hepatites B ou C. “O modelo de controle da Aids deve servir para a hepatite. Não devem existir bairrismos entre as duas patologias”, disse.
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Rodrigo Vasconcellos, de Santos
Fonte: Agência de Notícias da Aids

domingo, 15 de junho de 2008

FIOCRUZ ANUNCIA ESTUDO DE PREVENÇÃO AO HIV

O Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas - IPEC, da FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz, anunciou, esta semana, o início de uma nova pesquisa clínica de prevenção ao HIV, vírus que causa a AIDS. A pesquisa é chamada IPrEx - Iniciativa Profilaxia Pré-Exposição.
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A profilaxia pré-exposição (PrEP), terapia utilizada para prevenir mais do que tratar uma infecção ou doença, é uma estratégia sendo estudada pelo NIH (National Institutes of Health – Ministério da Saúde Americano) como parte dos esforços para desenvolver novos métodos de prevenção. Em estudos com macacos, o tratamento com drogas antiretrovirais para o HIV reduziu significativamente a contaminação entre macacos expostos à variedade símia do HIV. Em seres humanos, o HIV também se mostrou vulnerável a esse tipo de intervenção pré-contaminação. O tratamento antiretroviral durante o parto, de uma mãe infectada como HIV, reduz em aproximadamente 75% a probabilidade de contaminação do bebê. O tratamento com drogas anti-HIV também pode reduzir significativamente o risco de infecção quando realizado imediatamente após a exposição ao vírus.
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O estudo IPrEx, uma Iniciativa de profilaxia pré-exposição (PrEP) é um estudo financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (US NIH) e Fundação Bill & Melinda Gates e pode ajudar a prevenir a infecção pelo HIV em pessoas com alto risco de contaminação, quando combinado com a prática de sexo seguro, aconselhamento e o uso de preservativos. Este estudo está sendo conduzido por uma equipe de pesquisadores altamente qualificada no Brasil, Peru, Estados Unidos, África do Sul, Tailândia e Equador.
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O estudo incluirá 3000 homens saudáveis, sexualmente ativos e HIV-negativos, que fazem sexo com homens (HSH) e que têm alto risco de contaminação pelo HIV. Os voluntários em potencial serão submetidos a uma longa entrevista para assegurar que eles compreendam o estudo e que sua participação seja totalmente voluntária. Os voluntários serão cuidadosamente monitorados ao longo do período de 18 meses do estudo e por mais seis meses após o seu término.
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Estima-se que os dados do estudo IPrEx estejam disponíveis em 2010.
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Para melhores informações: www.iprex.com.br, entre em contato pelo email iprex@iprex.com.br ou ligue grátis para 0800-28-47739.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

CONFERÊNCIA GLBT É A PRIMEIRA A RECEBER APOIO GOVERNAMENTAL

O presidente Lula segura a bandeira do arco-íris, que representa o movimento GLBT, ladeado da primeira-dama Marisa Letícia, e o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi

A Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT), que começou ontem (5) à noite em Brasília, é a primeira do Brasil e do mundo realizada com apoio governamental. Cerca de mil pessoas debatem o tema direitos humanos e cidadania. A conferência foi precedida de encontros regionais que discutiram políticas públicas para o setor.
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O subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Perly Cipriano, disse que políticas públicas são necessárias para combater o preconceito e a discriminação tanto nas instituições quanto na sociedade. "O preconceito existe, é na família, na comunidade, no local de moradia. É preciso trabalhar em todas as áreas e também nas instituições. Os três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - têm que estar juntos nessa mesma política discutindo com a sociedade de maneira articulada”.
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Em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, Cipriano lembrou que quando um evento, como a conferência, tem o apoio do Estado, ele pode avançar e alcançar outros setores públicos ou da sociedade. “Na medida em que o Estado se propõe a discutir, debater e encaminhar políticas, há um aspecto positivo; naturalmente ainda tem preconceito. É preciso ter leis adequadas, o Judiciário todo ainda está acompanhando e ajudando nesse sentido.
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O subsecretário disse ainda que já existe uma mobilização grande no Brasil em torno do tema. Ele citou como exemplo a parada gay de São Paulo, com a participação de 3,5 milhões de pessoas, considerada a maior manifestação cívica no país. "Ali estão gays, lésbicas, travestis e transexuais, mas ali são pais e mães heterossexuais. A humanidade tem algumas questões a serem resolvidas para que a gente consiga uma democracia plena, a homofobia (aversão ou discriminação contra homossexuais.) é extremamente grave e precisa ser combatida".
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Sobre o caso do sargento preso depois de assumir a homossexualidade, Cipriano acredita que não existe nenhuma instituição homofóbica. “Não creio que exista uma instituição que seja homofóbica. Acho que é preciso conhecer de perto esses acontecimentos e trabalhar muito, é fundamental que se tenha o diálogo, não se combate intolerância com intolerância. No Brasil, há muito violência contra homossexuais, muitas vezes de pessoas com as quais eles convivem."
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O conjunto de sugestões aprovadas na conferência deve ser incluída no Plano Nacional de Cidadania da GLBT. “ Isso se dará se a sociedade estiver mobilizada. É isso que permite ter avanço e consolidar políticas. O Brasil já avançou muito, mas não podemos ter a visão de que está tudo resolvido.Essa conferência vai se refletir em todo o mundo. Muitos países estão aqui como observadores."
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da abertura da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais. A uma platéia formada por homossexuais, o presidente fez uma revelação sobre as suas viagem oficiais pelo mundo. "Ao longo da minha vida, eu conheci figuras muito importantes no Planeta, que não têm coragem de assumir o homossexualismo no seu país", disse.
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Lula: 'Conheço figuras importantes que não assumem o homessexualismo'
"Dá a impressão de que não existe, porque as pessoas sempre pensam: “no meu país não tem isso, na minha casa não tem aquilo, eu nunca vou pegar isso, eu nunca vou pegar aquilo”. Nós estamos sempre transferindo para os outros quando, na verdade, seria tão mais simples e o mundo seria tão mais alegre, se nós fôssemos menos rígidos com os tabus que foram colocados no nosso caminho ao longo da nossa história", emendou.
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"Conheço o preconceito nas minhas entranhas"
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Lula disse ainda que conhece o preconceito nas entranhas e defendeu a criação de um Dia de Combate à Hipocrisia: "Sabem por que é preciso criar o Dia do Combate à Hipocrisia? Porque quando se trata de preconceitos, eu o conheço nas minhas entranhas, eu sei o que é preconceito. Talvez seja a doença mais perversa impregnada na cabeça do ser humano. É uma doença que a gente não combate apenas com leis. A lei ajuda, a Constituição ajuda, montar conselhos ajuda, tudo ajuda, mas é um processo cultural".
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O presidente não escondeu, porém, o desconforto de colocar na cabeça um boné do movimento gay, oferecido pelo travesti Fernando Bevenute.
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Fonte: Jornais O Globo / O Dia - RJ
Foto: Agência Brasil