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sábado, 24 de maio de 2008

RISCO DE AIDS ENTRE OS HOMOSSEXUAIS AINDA É 11 VEZES MAIOR

USE CAMISINHA!

1982: É identificado o primeiro caso de Aids no Brasil.
1983: Morre em Nova York o estilista mineiro Markito, 31 anos, primeira pessoa pública do país a morrer por causa da Aids.

Naquele início dos anos 80, a doença era chamada de 'câncer' gay e muita gente tinha receio de apertar a mão de homossexuais e pegar a doença.
2008: Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 33,2 milhões de pessoas no mundo vivem hoje com o vírus HIV. Por dia, 6.800 pessoas são infectadas e 5.700 morrem por causa da doença.
Há muito caiu o preconceito. Houve o que a comunidade médica classifica como desomossexualização da doença.
Mas, ainda assim, os gays representam ainda 30% dos doentes em tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
No Brasil, estima-se que 620 mil pessoas vivem com o HIV. Segundo dados do Grupo Pela Vidda, 180 mil pessoas fazem atualmente tratamento para controle da doença.
- O avanço da medicina e a disponibilidade de medicamentos na rede pública tornaram a Aids uma doença crônica, como a diabetes ou a hepatite. Ela já não é mais associada à morte, diz Mario Scheffer, doutor em medicina preventiva e integrante do Grupo Pela Vida.
Há, porém, a outra face da moeda. Segundo a avaliação de Scheffer, na medida em que a Aids deixou de ser uma doença associada a grupos de risco, se alastrando entre os heterossexuais, houve na sociedade um certo grau de negligenciamento da epidemia entre os homossexuais.
Os mais velhos, que viram amigos morrer vítimas da doença, mantêm a preocupação com o uso constante de preservativos nas relações sexuais. Entre os mais jovens, há um certo relaxamento.
- O conceito de grupo de risco foi eliminado na década de 90. Ao mesmo tempo em que serviu para acabar com o preconceito, teve o efeito de afastar os homossexuais da prevenção. Houve paralisação e redução das ações e campanhas voltadas para este público inclusive pelas ONGs, que tiveram papel fundamental na mobilização da década de 80, afirma Scheffer.
O resultado é um recrudescimento da doença entre os mais jovens. Enquanto entre os homossexuais com mais de 30 anos há uma redução da taxa de incidência, a Aids aumentou no público adolescente e jovem.
O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde revela o aumento. Em 1996, 24% dos homossexuais com Aids tinham entre 13 e 24 anos. Em 2006, este percentual pulou para 41%. Na faixa etária de 25 a 29 anos, variou de 26% para 37% no período.
A Aids é um problema de saúde pública que afeta a todos, indistintamente, mas não se pode deixar de alertar que os homossexuais são 11 vezes mais vulneráveis à doença do que os heterossexuais.
- A incidência da Aids no público homossexual é de 226,5 casos para cada 100 mil, 11 vezes mais do que a taxa da população em geral, que é de 19,5 casos por 100 mil habitantes, explica Eduardo Barbosa, diretor-adjunto do Programa DST/Aids do governo federal.
O vírus da Aids não escolhe sexo ou lugar para atacar.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a Aids está presente em 86% das cidades brasileiras, mas é nos grandes centros que a maior parte dos casos se concentram. A capital paulista responde, sozinha, por 25% dos casos de todo o país.
- A grande história hoje é como voltar a priorizar a prevenção para este publico sem permitir que retome o preconceito, explica Scheffer.
Até quando o sistema será capaz de bancar o custo do tratamento da Aids?
Esta é a pergunta que se faz o médico Mário Scheffer. Hoje, o Ministério da Saúde desembolsa R$ 1,4 bilhão por ano para tratar de seus 180 mil doentes.
No total, 18 medicamentos que compõem os coquetéis destinados ao tratamento da Aids estão disponíveis na rede pública de saúde. Destes, apenas oito são fabricados no país.
Os demais são protegidos por patentes. No ano passado, pela primeira vez, o Brasil quebrou a patente do Efavirenz , um dos retrovirais usados no coquetel anti-aids.
Até 1996, as alternativas de medicamentos eram poucas e apenas a oferta do AZT era garantida. Agora, os doentes podem contar com medicamentos muito mais potentes.
- A Aids se tornou uma doença de caráter crônico. Tem cada vez mais pacientes dependendo do tratamento e com expectativa de vida maior. É um sério problema de saúde pública, diz Scheffer.
Eduardo Barbosa, do Ministério da Saúde, afirma que a quebra de patentes não é o único caminho e que o país caminha para aumentar a produção local, o que barateia custos. Além disso, assegura, as negociações de preços têm avançado.
Reconhecido pela ampla cobertura no tratamento dos doentes, o Brasil ainda registra por dia 30 mortes pela doença.
- É como se um ônibus lotado caísse em um precipício todo dia sem que se torne notícia, afirma Scheffer.
Assim como ocorre com doenças como a tuberculose, a Aids tem como divisor de águas a pobreza. Nada menos do que 43% das pessoas com Aids chegam tardiamente ao serviço de saúde.
Poucos fazem o teste para para saber se é HIV positivo. Sem ele, os soropotivos não conseguem se beneficiar desde cedo pela modernidade do tratamento. Sem ele, correm o risco de transmitir a doença.