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sexta-feira, 6 de junho de 2008

CONFERÊNCIA GLBT É A PRIMEIRA A RECEBER APOIO GOVERNAMENTAL

O presidente Lula segura a bandeira do arco-íris, que representa o movimento GLBT, ladeado da primeira-dama Marisa Letícia, e o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi

A Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT), que começou ontem (5) à noite em Brasília, é a primeira do Brasil e do mundo realizada com apoio governamental. Cerca de mil pessoas debatem o tema direitos humanos e cidadania. A conferência foi precedida de encontros regionais que discutiram políticas públicas para o setor.
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O subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Perly Cipriano, disse que políticas públicas são necessárias para combater o preconceito e a discriminação tanto nas instituições quanto na sociedade. "O preconceito existe, é na família, na comunidade, no local de moradia. É preciso trabalhar em todas as áreas e também nas instituições. Os três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - têm que estar juntos nessa mesma política discutindo com a sociedade de maneira articulada”.
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Em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, Cipriano lembrou que quando um evento, como a conferência, tem o apoio do Estado, ele pode avançar e alcançar outros setores públicos ou da sociedade. “Na medida em que o Estado se propõe a discutir, debater e encaminhar políticas, há um aspecto positivo; naturalmente ainda tem preconceito. É preciso ter leis adequadas, o Judiciário todo ainda está acompanhando e ajudando nesse sentido.
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O subsecretário disse ainda que já existe uma mobilização grande no Brasil em torno do tema. Ele citou como exemplo a parada gay de São Paulo, com a participação de 3,5 milhões de pessoas, considerada a maior manifestação cívica no país. "Ali estão gays, lésbicas, travestis e transexuais, mas ali são pais e mães heterossexuais. A humanidade tem algumas questões a serem resolvidas para que a gente consiga uma democracia plena, a homofobia (aversão ou discriminação contra homossexuais.) é extremamente grave e precisa ser combatida".
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Sobre o caso do sargento preso depois de assumir a homossexualidade, Cipriano acredita que não existe nenhuma instituição homofóbica. “Não creio que exista uma instituição que seja homofóbica. Acho que é preciso conhecer de perto esses acontecimentos e trabalhar muito, é fundamental que se tenha o diálogo, não se combate intolerância com intolerância. No Brasil, há muito violência contra homossexuais, muitas vezes de pessoas com as quais eles convivem."
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O conjunto de sugestões aprovadas na conferência deve ser incluída no Plano Nacional de Cidadania da GLBT. “ Isso se dará se a sociedade estiver mobilizada. É isso que permite ter avanço e consolidar políticas. O Brasil já avançou muito, mas não podemos ter a visão de que está tudo resolvido.Essa conferência vai se refletir em todo o mundo. Muitos países estão aqui como observadores."
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da abertura da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais. A uma platéia formada por homossexuais, o presidente fez uma revelação sobre as suas viagem oficiais pelo mundo. "Ao longo da minha vida, eu conheci figuras muito importantes no Planeta, que não têm coragem de assumir o homossexualismo no seu país", disse.
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Lula: 'Conheço figuras importantes que não assumem o homessexualismo'
"Dá a impressão de que não existe, porque as pessoas sempre pensam: “no meu país não tem isso, na minha casa não tem aquilo, eu nunca vou pegar isso, eu nunca vou pegar aquilo”. Nós estamos sempre transferindo para os outros quando, na verdade, seria tão mais simples e o mundo seria tão mais alegre, se nós fôssemos menos rígidos com os tabus que foram colocados no nosso caminho ao longo da nossa história", emendou.
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"Conheço o preconceito nas minhas entranhas"
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Lula disse ainda que conhece o preconceito nas entranhas e defendeu a criação de um Dia de Combate à Hipocrisia: "Sabem por que é preciso criar o Dia do Combate à Hipocrisia? Porque quando se trata de preconceitos, eu o conheço nas minhas entranhas, eu sei o que é preconceito. Talvez seja a doença mais perversa impregnada na cabeça do ser humano. É uma doença que a gente não combate apenas com leis. A lei ajuda, a Constituição ajuda, montar conselhos ajuda, tudo ajuda, mas é um processo cultural".
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O presidente não escondeu, porém, o desconforto de colocar na cabeça um boné do movimento gay, oferecido pelo travesti Fernando Bevenute.
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Fonte: Jornais O Globo / O Dia - RJ
Foto: Agência Brasil