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sábado, 6 de dezembro de 2008

AIDS: EPIDEMIA OCULTA

Governo lança diagnóstico rápido para atender 255 mil que teriam HIV sem saber

O governo brasileiro estima que há no país 255 mil pessoas infectadas pelo vírus HIV e que não sabem que carregam consigo o potencial de desenvolver a AIDS. O índice de jovens e adultos que se submeteram ao teste anti-HIV aumentou 67% nos últimos anos e hoje atinge 40% da população, segundo o Ministério da Saúde.

O acesso ao diagnóstico, no entanto, tem que chegar ao grupo que pode estar retardando, por ignorância, o início do tratamento, oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ao todo, 200 mil portadores do HIV são tratados pelo coquetel anti-retroviral.

A estimativa sobre o número de pessoas que podem estar infectadas e ainda não sabem foi alcançada por uma fórmula que cruza dados do IBGE sobre a população total com o número de brasileiros sexualmente ativos e aqueles que já fizeram o teste antiHIV. No total, 0,61% dos brasileiros são soropositivos, dado também considerado no cálculo.

Na segunda-feira passada, Dia Mundial de Luta contra a AIDS, o Ministério da Saúde anunciou que irá enviar aos 27 estados 3,3 milhões de kits para teste rápido anti-HIV no ano que vem. O governo acredita que o diagnóstico precoce ajuda o paciente a melhorar a qualidade de vida.
- A testagem rápida facilita muito. Você vai ao serviço de saúde e já sai com o resultado. Quanto mais precoce o diagnóstico, melhor o resultado no tratamento e a sobrevida do paciente - disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

Os kits são feitos com tecnologia 100% brasileira, desenvolvida pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) e pela Universidade Federal do Espírito Santo. O paciente tem que fazer dois procedimentos e basta uma gota de sangue para cada exame. O resultado demora 15 minutos e, se confirmado nos dois exames, a confiabilidade é de 100%.
A diretora do Programa Nacional de DST/AIDS, MARIÂNGELA SIMÃO, recomendou que todos que fizeram sexo desprotegido com parceiro eventual devem procurar o serviço de saúde para realizar o teste.

- Todas as pessoas que um dia fizeram sexo inseguro, que estão preocupadas, devem procurar um serviço de saúde. O teste de HIV tem garantia total de anonimato - afirmou MARIÂNGELA.

Apesar do aumento no número de pessoas examinadas, a diretora disse que os testes estão mais concentrados entre as mulheres grávidas, que o fazem entre os exames de pré-natal.

O Ministério da Saúde também divulgou no dia 1º de dezembro uma pesquisa com oito mil pessoas sobre o preconceito contra soropositivos. Segundo a pesquisa, 22,5% acreditam que não se pode comprar em mercados onde há funcionários portadores do HIV. Para 19%, se um parente contrair o vírus, ele não deve ser tratado em casa. Outros 13% acham que uma professora SOROPOSITIVA não pode dar aulas em qualquer escola.

- Isso mostra que o estigma e a discriminação ainda estão muito presentes no Brasil, apesar de 96% da população afirmarem saber que o HIV se pega por via sexual. Então você mistura as duas coisas: um alto nível de informação e, ao mesmo tempo, uma tendência a culpar os soropositivos - lamentou MARIÂNGELA SIMÃO.

Para demonstrar o isolamento ao qual o portador da doença está exposto no Brasil, o ministério montou, em frente ao Palácio do Planalto, uma encenação na qual uma pessoa fica dentro de uma bolha transparente, sem conseguir interagir com o mundo do lado de fora. A peça foi intitulada "O preconceito isola".

Campanhas contra o preconceito também foram lançadas em outros países. Na África do Sul, manifestantes pediram acesso maior a diagnóstico e tratamento.
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por Catarina Alencastro
Fonte: jornal O Globo