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quinta-feira, 1 de maio de 2008

PORTADOR DE HIV INICIA TRATAMENTO QUANDO SAÚDE JÁ ESTÁ DEBILITADA


Apesar do acesso amplo a exames e remédios, 43,7% dos pacientes com Aids no Brasil descobrem ser portadores da doença e iniciam o tratamento quando a saúde já está bastante debilitada. A demora para o início da terapia se reflete nas estatísticas de mortalidade: 28,7% deles morreram no primeiro ano depois da confirmação da infecção. "É um índice inaceitável", disse a coordenadora do Programa Nacional de DST-Aids, Mariangela Simão, acrescentando que a porcentagem de detecção tardia "merece reflexão da estratégia usada para diagnóstico da doença".

Relatório brasileiro enviado à Assembléia-Geral das Nações Unidas em HIV/Aids mostra que o risco de morte do paciente com início tardio de tratamento é 22 vezes maior do que das pessoas que começam a terapia no tempo oportuno. Dos pacientes que começaram o tratamento e morreram entre 2003 e 2006, a maioria (94%) era de pacientes tardios - que já apresentam deficiências severas e sintomas.

Para Mariangela Simão, uma das formas de melhorar o acesso aos exames é a ampliação da oferta de testes rápidos para detectar a Aids. Ela lembra que, embora a oferta do teste tenha aumentado 140% de 2005 para cá, há ainda resistência nos serviços públicos para o uso desses kits. Mariangela admite que, no primeiro estágio, parte dos testes perdeu validade nos estoques, sem ser usada. "Hoje não perdemos mais testes", garantiu.

Mariangela defende, porém, que os testes rápidos devem ficar restritos aos serviços de saúde. "É preciso colher o sangue do paciente e para isso é preciso um profissional habilitado."

O pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e um dos colaboradores do documento brasileiro, Alexandre Grangeiro, disse que "é chegado o momento de se pensar em estratégias mais agressivas para oferta dos exames de detecção do HIV". Para ele, é preciso não só intensificar campanhas que mostram a importância sobre o diagnóstico como também ampliar a oferta dos postos de testagem gratuita. Ele defende, por exemplo, a realização de exames em Organizações Não-Governamentais de prevenção de Aids. "Uma ação semelhante à que foi realizada com oferta de preservativos."

Os índices brasileiros de tratamento tardio não diferem muito dos de países desenvolvidos. "Isso não significa que devamos ficar inertes. Temos muito a melhorar", afirmou Mariangela. O risco do início do tratamento tardio varia de acordo com a idade, sexo e região do paciente.
Lígia Formenti - Agência Estado [24/04/2008]