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quinta-feira, 24 de julho de 2008

NÚMERO DE JOVENS GAYS MASCULINOS COM HIV CRESCE 70,5%

Entre a população de 13 a 19 anos, há 10 mulheres infectadas para cada 6 rapazes portadores de HIV

O número de jovens homo e bissexuais masculinos com HIV no País aumentou 70,5% em uma década, revelou o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. Em 1996, homossexuais e bissexuais masculinos representavam 24,1% do total de casos da doença entre 13 e 24 anos. Em 2006, a proporção saltou para 41,1% dos casos na mesma faixa etária. Entre heterossexuais, a proporção também aumentou neste período, mas numa velocidade menor, 51,6%.
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O documento mostra ainda que, entre jovens, o grupo feminino está mais vulnerável à epidemia. Na faixa etária de 13 a 19 anos, há hoje dez mulheres infectadas para cada seis homens. Algo bem diferente do que ocorria em 1985, quando eram contabilizados 14 casos no grupo masculino para cada caso feminino.
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As duas tendências preocupantes reveladas pelo boletim têm em sua origem um problema comum: dificuldade no acesso a serviços de saúde e resistências culturais. “Meninas sentem-se inibidas em recorrer a postos de coleta de preservativos. O mesmo ocorre com jovens gays, que temem a discriminação”, afirmou a coordenadora do Programa Nacional de DST-Aids, Mariangela Simão. No caso de jovens gays, há um problema adicional, vivido também na Alemanha e em alguns estados americanos. Esta geração cresceu longe do horror que a doença provocava no início da epidemia. Agora, a aids é vista como um problema crônico, o que, em parte, acaba abrindo brechas para que a prevenção seja mais “frouxa”.
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Diante da tendência registrada entre bissexuais homens e homossexuais, o Programa Nacional de DST-Aids, em conjunto com a sociedade civil, desenvolveu um conjunto de ações. A estratégia tem como principal objetivo reduzir a homofobia entre grupos de jovens, ampliar a consciência sobre a necessidade de proteção e do uso de preservativos. Entre homossexuais e bissexuais de faixas etárias mais altas, o número de casos novos está caindo. Justamente por isso, a média de casos de aids entre homo/bissexuais mantém-se estável.
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EM QUEDA - O boletim aponta ainda uma tendência de queda no número de casos de aids no Brasil. Em 2006, foram registrados 32.628 casos novos da infecção. Em 2002, haviam sido notificados 38.816 novos pacientes. “Mas é cedo para falar que o número de casos está caindo. Para isso, precisamos esperar pelo menos mais dois anos”, afirmou.
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A cautela se explica. A epidemia hoje está pulverizada pelo País, 86% dos municípios brasileiros têm casos registrados da doença. “Com a interiorização, há maior risco de a notificação dos casos ser mais lenta”, observou. A análise dos dados mostra que o número de casos da doença permanece estável nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Já nas regiões Norte e Nordeste, a epidemia apresenta um ritmo crescente.
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A diferença também é notada nas taxas de mortalidade. Regiões Norte e Nordeste apresentam números mais elevados. Para Mariangela, isso demonstra deficiências nos sistemas de saúde dessas duas regiões. “É preciso melhorar principalmente o diagnóstico precoce e o início do tratamento”, observou. O trabalho mostra, por exemplo que 13,9% dos indivíduos diagnosticados com aids no Norte morreram um ano depois da descoberta da doença. No Sudeste, 95% das pessoas com aids continuam vivas cinco anos depois do diagnóstico.
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O documento também indica a redução dos casos da doença entre usuários de drogas injetáveis. Para Mariangela, essa redução é fruto da combinação de três fatores: eficácia do programa de redução de danos - que distribui seringas para usuários -, a morte de parte dos pacientes dependentes de drogas injetáveis e, também, a mudança do perfil do uso de drogas no País. “O uso de crack agora é muito mais intenso do que o de drogas injetáveis”, observa.
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Atualmente, a aids atinge 0,5% da população brasileira entre 15 e 49 anos. Apesar da distribuição de medicamentos anti-retrovirais, as taxas de mortalidade são estáveis: 5,1 por 100 mil habitantes. “A terapia aumenta a expectativa de vida dos pacientes. Mas aqueles que já estão em tratamento há mais tempo podem apresentar resistência aos remédios”, explicou.
Por: Ligia Tormenti
Fonte: O Estado de São Paulo